Tributação para vendedores da Shopee: guia completo para pagar menos imposto dentro da lei
Se você vende na Shopee, precisa pagar imposto. A boa notícia é que, com o CNPJ e o regime corretos, a carga tributária pode ser planejada para caber no seu bolso. Na maioria dos casos, a combinação Shopee + CNPJ no Simples Nacional (Anexo I) é o caminho mais econômico — desde que você controle limite de faturamento, ICMS e DIFAL com lupa.
Este guia foi pensado para quem já vende ou quer vender na Shopee e não quer ser pego de surpresa pela Receita ou pela Sefaz. Vamos passar por PF x MEI x CNPJ, principais impostos, exemplos práticos e armadilhas que você deve evitar.
Shopee cresceu, o Fisco acordou: por que a tributação importa
A Shopee é hoje um dos maiores marketplaces do Brasil, com bilhões em vendas por ano e milhões de vendedores ativos. Esse volume chamou a atenção do Fisco: estados já vêm cruzando dados da plataforma com administradoras de cartão para localizar operações sem nota e cobrar ICMS e multas.
Se você vende de forma recorrente e recebe via cartão/marketplace, mas declara “pouco ou nada” no imposto de renda ou no ICMS, está desenhando um alvo nas costas. Os principais riscos são:
Autuação por falta de ICMS/DIFAL em vendas interestaduais.
Multas elevadas por omissão de receita.
Problemas no IRPF por incompatibilidade entre movimentação financeira e renda declarada.
Ou seja: não existe vender na Shopee “sem cair no radar”. A pergunta correta não é “se” vai cair, mas “quando”.
Quem vende na Shopee precisa pagar imposto? Entenda PF, MEI e CNPJ
Pessoa física (CPF): quase sempre má ideia
É possível vender na Shopee com CPF, especialmente no início. Mas, do ponto de vista tributário, isso só faz sentido para quem vende pouco, de forma esporádica e sem intenção de virar negócio.
Na prática, quando a venda vira recorrente, a Receita e o estado tendem a tratar como atividade empresarial mascarada, sujeita a:
Tributação no IRPF (como rendimento tributável) com alíquotas de até 27,5%;
Cobrança de ICMS com multa, quando identificada a habitualidade de venda de mercadorias.
Se a sua loja já é “um negócio” e não apenas um bazar eventual, continuar no CPF é um erro grave.
MEI na Shopee: solução de entrada, mas com teto baixo
O MEI é, em geral, o primeiro passo de formalização. Em 2025, o limite oficial de faturamento do MEI continua em R$ 81.000,00 por ano, com tolerância de até 20% (R$ 97.200,00) antes do desenquadramento definitivo, e teto proporcional no ano de abertura.
Pontos importantes para quem é ou quer ser MEI na Shopee:
Paga DAS fixo mensal, que inclui INSS + ICMS (comércio) ou ISS (serviço);
Precisa observar se o CNAE escolhido é permitido para MEI (comércio varejista em geral costuma ser permitido);
Precisa controlar muito bem o faturamento: Shopee e Receita estão cruzando dados;
A partir de certo volume, a própria Shopee exige migração para CNPJ PJ em faturamentos superiores a R$ 81 mil em 12 meses.
Exemplo prático – MEI na Shopee
Você fatura R$ 5.000,00 por mês (R$ 60.000,00/ano). O imposto do MEI não será um percentual sobre as vendas, mas um valor fixo mensal relativamente baixo (IS/ICMS + INSS), ótimo do ponto de vista de fluxo de caixa. O problema é: se o negócio deslanchar, você bate no teto rápido.
Conclusão: MEI é bom para começar, testar produto e validar operação, mas não serve para quem quer faturar alto na Shopee.
Microempresa (ME) e EPP: quando o jogo fica profissional
Acima do MEI, você entra em ME ou EPP, podendo escolher entre:
Simples Nacional (regra geral para a maioria dos vendedores da Shopee);
Lucro Presumido;
Lucro Real (em poucos casos, quando há margens apertadas ou muitas despesas dedutíveis).
Nessa etapa, você passa a ter:
ICMS destacado nas notas;
Possibilidade de vender para outras empresas com crédito de imposto;
Obrigações acessórias mais robustas (SPED, declarações etc.);
Maior segurança jurídica e imagem profissional.
Comparativo rápido de perfis para vender na Shopee
| Perfil | Limite de faturamento anual (2025) | Principais vantagens | Principais limitações/risco |
|---|---|---|---|
| Pessoa física (CPF) | Sem limite formal, mas arriscado | Zero burocracia inicial | Alta tributação, risco de autuação e bloqueios |
| MEI | R$ 81.000,00 (com tolerância de 20%)Razonet+1 | DAS baixo e simplificado, início rápido | Teto baixo, CNAEs limitados, pouca escalabilidade |
| ME – Simples | Até R$ 360.000,00 (ME) | Tributação unificada, geralmente mais econômica | Requer mais controle e gestão |
| EPP – Simples | Até R$ 4,8 milhões | Ideal para quem escala forte na Shopee | Exige contabilidade bem estruturada |
| Presumido/Real | Acima de R$ 4,8 milhões ou casos específicos | Planejamento sofisticado, créditos de tributos em alguns casos | Mais complexo e sujeito a fiscalização intensa |
Quais impostos incidem sobre vendedores da Shopee?
ICMS e DIFAL: o imposto “nervoso” do e-commerce
O ICMS é o imposto estadual sobre circulação de mercadorias, e é o principal tributo que recai sobre quem vende produtos físicos pela internet.
Para vendas interestaduais para consumidor final (pessoa física ou empresa não contribuinte de ICMS), ainda existe o DIFAL (Diferencial de Alíquota), que complementa a diferença entre a alíquota interna do estado de destino e a interestadual.
Na prática:
Se você vende da Bahia para cliente em São Paulo, precisa avaliar se há DIFAL a recolher;
Estados vêm apertando o cerco ao e-commerce, inclusive com decisões específicas e interpretações voltadas ao comércio online.
Mesmo no Simples Nacional, o DIFAL pode ser devido fora da guia DAS em alguns cenários, dependendo da legislação estadual. Isso precisa ser avaliado caso a caso.
Tributos federais (IRPJ, CSLL, PIS, COFINS)
Os tributos federais variam conforme o regime:
Simples Nacional: IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e CPP vêm dentro da própria guia DAS, num percentual único sobre o faturamento (Anexo I para comércio).
Lucro Presumido: IRPJ e CSLL incidem sobre uma base presumida do faturamento (por exemplo, 8% para IRPJ e 12% para CSLL no comércio), mais PIS/COFINS cumulativos (0,65% + 3,0%) sobre a receita.
Lucro Real: tributos calculados sobre o lucro efetivo, com possibilidade de créditos de PIS/COFINS não cumulativos e maior complexidade.
Para a maioria dos vendedores da Shopee com faturamento até alguns milhões, o Simples Nacional tende a ser mais interessante, desde que a margem não seja absurdamente baixa.
Contribuição previdenciária
MEI: contribui via DAS com um percentual sobre o salário mínimo, garantindo cobertura previdenciária básica.
Demais regimes: há INSS sobre a folha e, em alguns casos, sobre o pró-labore do sócio, além da CPP dentro do DAS para optantes do Simples.
ISS: quando entra no jogo?
Para quem vende mercadorias, o foco é ICMS. O ISS entra basicamente em dois contextos:
Serviços adicionais prestados pelo vendedor (ex.: personalização complexa, montagem, consultoria etc.);
Serviços prestados pela própria Shopee (comissão, intermediação, publicidade), em que o ISS é devido pelo marketplace ou retido do vendedor sobre a comissão.
Na prática, o ISS costuma impactar mais a tributação da comissão da Shopee do que a venda da mercadoria em si.
MEI vendedor da Shopee: até quando vale a pena?
O MEI continua sendo, em 2025, a porta de entrada mais simples. Mas é crucial não romantizar:
Limite anual de R$ 81.000,00, com tolerância de até 20% (R$ 97.200) antes do desenquadramento;
Resolução recente (CGSN nº 183/2025) endureceu critérios de controle, somando algumas receitas para verificar o teto, o que exige ainda mais atenção.
Quando o MEI faz sentido na Shopee?
Loja em fase inicial, faturando algo como R$ 3.000,00 a R$ 5.000,00 mensais;
Mix de produtos com boa margem, permitindo absorver taxas da Shopee + custo de mercadoria mesmo com DAS fixo;
Empreendedor que ainda está validando nicho e fornecedor.
Quando o MEI deixa de funcionar:
Quando a própria Shopee pressiona pela migração para CNPJ acima de determinados volumes;
Quando o faturamento se aproxima com frequência da faixa dos R$ 81.000,00 anuais;
Quando o vendedor precisa emitir notas para grandes clientes PJ ou quer trabalhar com marcas maiores.
Simples Nacional para vendedores da Shopee
CNAEs e anexo tributário
Varejo online de mercadorias se enquadra, em regra, em CNAEs de comércio varejista não presencial/e-commerce, que levam a atividade para o Anexo I do Simples Nacional.
No Anexo I, as alíquotas variam aproximadamente de 4% a 19% sobre a receita bruta acumulada em 12 meses (RBT12), com faixas progressivas.
Tabela simplificada – Anexo I (comércio)
| Faixa | RBT12 (últimos 12 meses) | Alíquota nominal | Parcela a deduzir (PD) |
|---|---|---|---|
| 1ª | Até R$ 180.000,00 | 4,0% | R$ 0,00 |
| 2ª | De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 | 7,3% | R$ 5.940,00 |
| 3ª | De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 | 9,5% | R$ 13.860,00 |
| 4ª | De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 | 10,7% | R$ 22.500,00 |
| 5ª | De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 | 14,3% | R$ 87.300,00 |
| 6ª | De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 | 19,0% | R$ 378.000,00 |
A alíquota efetiva é calculada pela fórmula oficial:
(RBT12 × Alíquota nominal – PD) ÷ RBT12
Exemplo prático – Loja na Shopee no Simples
Imagine uma loja com RBT12 de R$ 360.000,00, na 2ª faixa:
RBT12 = 360.000
Alíquota nominal = 7,3%
PD = 5.940
Alíquota efetiva ≈ 5,65% sobre o faturamento. Isso já inclui ICMS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e CPP dentro da DAS.
Para quem vende na Shopee com boa margem, isso costuma ser bem competitivo frente ao Lucro Presumido.
Lucro Presumido e Lucro Real: quando valem a pena na Shopee?
Lucro Presumido
Pode ser interessante para lojistas com:
Faturamento mais alto;
Margens muito elevadas;
Necessidade de crédito de PIS/COFINS em algumas cadeias (ainda que, em comércio, isso seja limitado).
De forma geral, no comércio:
IRPJ: base presumida (por ex., 8% da receita), alíquota de 15% + adicional de 10% sobre o que passar de R$ 60.000,00/trimestre;
CSLL: base presumida (ex.: 12% da receita), alíquota de 9%;
PIS/COFINS: 0,65% + 3,0% sobre a receita bruta;
ICMS: conforme legislação estadual.
Para muitos vendedores da Shopee, essa combinação resulta em carga efetiva maior do que no Simples, especialmente abaixo de R$ 3–4 milhões/ano.
Lucro Real
É a exceção, não a regra, para varejo em marketplaces. Pode entrar no radar quando:
O faturamento é muito elevado;
A margem é apertada e é possível aproveitar créditos relevantes de PIS/COFINS;
Há estrutura contábil/financeira madura para lidar com a complexidade.
Taxas da Shopee x impostos: tudo impacta a sua margem
Além dos impostos, o vendedor da Shopee precisa lidar com taxas da própria plataforma:
Comissão padrão em torno de 14% do valor do produto, podendo chegar a cerca de 20% para quem participa do Programa de Frete Grátis, além de uma taxa fixa de aproximadamente R$ 4 por item vendido.
Essas taxas não são impostos, mas comem diretamente a sua margem e influenciam:
A escolha do regime tributário (Simples x Presumido);
A precificação final (para não “vender muito e lucrar pouco”);
O quanto sobra depois que você paga mercadoria + frete + Shopee + tributos.
Exemplo prático
Venda de um produto a R$ 100,00 na Shopee (programa de frete grátis):
Taxas Shopee: ≈ 20% (R$ 20,00) + R$ 4,00 = R$ 24,00;
Custo da mercadoria: digamos R$ 45,00;
Sobram R$ 31,00 antes dos impostos.
Se você estiver no Simples com alíquota efetiva de ~6%, o imposto sobre esses R$ 100,00 será R$ 6,00. Resultado: R$ 25,00 de margem bruta, ainda sem considerar despesas fixas, embalagem, logística reversa etc.
Sem planejamento, é fácil transformar um negócio “que vende muito” em um negócio que lucra quase nada.
Importados, “taxa das blusinhas” e Remessa Conforme: o que isso muda para o vendedor?
Muitos vendedores da Shopee revendem produtos importados. Aqui é importante separar:
Compras internacionais feitas pelo consumidor final (Remessa Conforme, Shopee/Shein/Aliexpress) com tributação de II + ICMS no ato da compra, dentro do programa e das regras recentes, incluindo a “taxa das blusinhas”.
Importação feita pelo CNPJ do vendedor, onde entram Imposto de Importação, IPI, PIS/COFINS-Importação, ICMS-importação etc.
Se você importa por conta própria para revender na Shopee:
Precisa fazer a classificação fiscal (NCM) correta;
Avaliar o impacto de cada tributo na formação do preço;
Planejar o regime aduaneiro e tributário adequado (Simples x Presumido/Real).
Boas práticas para não ter problemas com a Receita vendendo na Shopee
Formalize o CNPJ correto
Começou a vender com recorrência? Avalie, no mínimo, MEI. Bateu perto de R$ 81.000,00/ano? Planeje migrar para ME Simples antes de estourar o teto.
Escolha o CNAE adequado
Use CNAEs de comércio varejista não presencial/e-commerce, compatíveis com o que você realmente vende.
Controle o RBT12 mês a mês
Isso decide faixas do Simples, alíquota efetiva e até mesmo se você pode continuar no MEI.
Emita nota fiscal em todas as vendas que exigem
Inclusive para pessoas físicas, se a legislação estadual/municipal assim determinar. Isso reduz o risco de autuação quando o Fisco cruzar seus dados com a Shopee e com operadoras de cartão.
Atenção ao DIFAL
Mapeie vendas interestaduais para consumidor final; muitos estados exigem o recolhimento do DIFAL mesmo para empresas do Simples.
Separe a conta PJ da conta PF
Misturar dinheiro pessoal com o da empresa é convite a problema em fiscalização.
Planeje já a transição para a Reforma Tributária
A partir de 2027, a lógica de tributação mudará com a entrada de CBS/IBS e provável aumento da responsabilidade dos marketplaces na retenção de tributos, impactando diretamente quem vende na Shopee.
Tenha um contador especializado em e-commerce/marketplaces
A combinação ICMS + DIFAL + taxas da Shopee + Simples/Presumido não é trivial. Erro aqui costuma ser caro.
Perguntas frequentes sobre tributação para vendedores da Shopee
1. Quem vende na Shopee como PF precisa declarar imposto de renda?
Sim, se o volume de vendas representar atividade habitual e gerar lucro relevante, a Receita tende a exigir a tributação no IRPF. Quanto maior o movimento, maior o risco de cair em malha.
2. Vender como MEI na Shopee é sempre a melhor opção?
Não. É ótimo para começar, mas o limite de R$ 81 mil/ano é baixo para quem está escalando no marketplace. Além disso, novas regras e cruzamentos de dados tornam o MEI mais vigiado em 2025.
3. No Simples Nacional, pago ICMS separado ou tudo na DAS?
Em regra, ICMS vem dentro da DAS. Mas o DIFAL pode ser exigido à parte em operações interestaduais para consumidor final, conforme a legislação de cada estado.
4. A Shopee paga meus impostos automaticamente?
Não. A Shopee cobra taxas de uso da plataforma e, em alguns casos, pode reter tributos ligados à comissão/serviços. Mas a responsabilidade de recolher ICMS, DIFAL e tributos do seu CNPJ é sua.
5. Dá para vender na Shopee pagando pouco imposto e dormindo tranquilo?
Sim, desde que você: escolha o regime correto, planeje o faturamento (MEI x ME), controle margem com as taxas da Shopee e mantenha contabilidade bem feita.
Conclusão
Vender na Shopee pode ser altamente lucrativo, mas sem planejamento tributário a plataforma vira uma armadilha: taxas de 14% a 20%, ICMS, DIFAL, Simples, riscos de autuação… tudo isso corrói a margem de quem trabalha no improviso.
Quem leva a sério a tributação para vendedores da Shopee escolhe bem o regime (MEI, Simples, Presumido ou Real), controla o faturamento, entende a lógica do ICMS/DIFAL e integra os custos da Shopee à precificação. É assim que o negócio sai da informalidade, cresce com segurança e se torna um ativo valioso — não um problema com a Receita.
A Agitt Contabilidade está à sua disposição com uma equipe de alto nível, pronta para ser sua parceira estratégica nesta jornada. Nós estamos aqui para ajudar você a decidir qual o melhor caminho a trilhar, otimizando sua carga tributária e garantindo sua total segurança jurídica.
👉 Fale agora mesmo com um especialista. Entre em contato através do nosso WhatsApp (71) 3838-9790, ou pelo e-mail contato@agitt.net.
Entre em contato conosco
Clique no botão para obter mais informações sobre nossos serviços e como podemos ajudá-lo a gerenciar suas obrigações contábeis.
Leia também:
- ICMS na Importação para Pequenos Vendedores: O Guia Definitivo e Atualizado
- Endereço Virtual em Salvador/BA: Vantagens e Atividades Permitidas
- Fator R para médicos: Como reduzir a carga tributária no Simples Nacional
- Venda Interestadual no E-commerce em 2026: O Simples Nacional precisa pagar DIFAL?
- Checklist para abertura de empresa: O passo a passo completo e seguro
- Como abrir empresa médica: guia completo tributário, jurídico e prático
Entre em contato conosco
Clique no botão para obter mais informações sobre nossos serviços e como podemos ajudá-lo a gerenciar suas obrigações contábeis.
Política de Privacidade e Termos de Uso. © 2025 ÁGITT Contabilidade – Escritório de Contabilidade em Lauro de Freitas, BA. Todos os direitos reservados